Crise do aço mostra fortes impactos e previsões para 2021
O ano de 2020 foi desafiador para todos os setores. Em especial, o setor metalúrgico precisou desenvolver novas estratégias para superar a crise do COVID-19. A produção brasileira de aço bruto chegou a 31 milhões de toneladas no ano passado, o que representa uma queda de 4,9% em relação ao ano anterior e é apenas um dos impactos causados pelas medidas tomadas sobre a pandemia. No auge da crise sanitária, treze altos-fornos chegaram a ser desligados em todo o País, dos quais, sete estão localizados em Minas Gerais.
Porém, algo bom desabrochou nesse momento difícil: as vendas internas atingiram 19,2 milhões de toneladas, expandindo em 2,4% em relação ao ano anterior. “A produção de aço sofreu queda em relação ao que foi produzido em 2019, fundamentalmente devido à parada de equipamentos ocorrida no momento mais agudo da grave crise de demanda enfrentada pela indústria em abril do ano passado”, comentou o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes.
Boas expectativas para o setor
Para 2021, as expectativas são mais otimistas. De acordo com o Instituto Aço Brasil, a perspectiva é de que as vendas avancem em mais de 5% neste ano, enquanto o consumo de produtos siderúrgicos deverá ter alta de quase 6% em relação a 2020.
A pandemia trouxe incertezas para os mercado siderúrgico que afetou a oferta a ponto de empresas paralisarem fornos. Esse movimento gerou alta nos preços, porque a demanda, principalmente da China, não acompanhou o arrefecimento e até mesmo o Brasil mostrou recuperação da sua atividade antes do projetado.
Para 2021, a aposta é que essa dinâmica permaneça, a partir, principalmente, do aumento do preço do minério de ferro e do desequilíbrio ainda existente entre oferta e demanda, ocasionando elevação também nas siderúrgicas. E como consequência, a pressão por metais continuará atingindo setores de automóveis e construção civil.
Panorama de recuperação
O fechamento de fábricas e a retração do consumo em todo o mundo fizeram com que a produção da matéria-prima primordial para a construção civil e para a indústria, presente em automóveis e eletrodomésticos, ficasse estagnada e a capacidade ociosa disparasse.
“O atual dinamismo do setor imobiliário e dos preços relativos como câmbio devem estimular a indústria siderúrgica nacional, especialmente se a demanda global ajudar”, projeta o engenheiro e doutor em economia Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda e atual diretor de estratégia econômica e relações com mercados do banco Safra.
Segundo Martinez, da CSN, o país precisa passar por uma ‘reindustrialização’ de maneira sólida. Para isso, não basta a taxa de juro atraente, mas a desburocratização do sistema tributário nacional lembra-se que a reforma tributária ainda tem um longo périplo a seguir antes de ser aprovada no Congresso. “A indústria precisa ter um papel mais relevante na economia. Em países mais desenvolvidos, a participação da indústria no PIB gira em torno de 25%. Hoje, o nível de participação da indústria no PIB nacional é inferior a 10%”, diz.
O consumo do aço ilustra o desenvolvimento das nações. Olhar para a Ásia torna isso bastante claro. Enquanto o consumo per capita de produtos siderúrgicos no Brasil era de 100,6 kg (quilogramas) em 1980, a China consumia apenas 32 kg. Em 2019, no entanto, esse indicador evoluiu no país asiático para a marca de 636,1 kg.
Assim como o processo de religamento de um alto-forno é delicado e demanda muitos estudos, aumentar a capacidade produtiva para exportação não é tão simples. Para diminuir a ociosidade nas fábricas, índice que em junho foi de 51%, o setor briga pela recomposição da alíquota do Reintegra, programa de incentivo fiscal criado pelo governo em 2011. Hoje, essa alíquota é praticamente invisível.
Conclusão
Apesar dos bons ventos que sopram a favor da siderurgia nacional, há de se ressaltar que o dólar, um fator preponderante para as exportações, também se valorizou perante as moedas de outros competidores, como a Turquia e a Rússia. A indústria automotiva, um dos principais mercados do aço, tende a demorar para registrar uma retomada acentuada, o que continuará pressionando as margens das siderúrgicas do país. Além disso, a recuperação econômica com mais vigor depende da aprovação da reforma tributária.
Só assim, a atividade econômica voltará a crescer, e consolidará a retomada do tradicional setor do aço em uma nova era de grandes negócios.
Para saber mais sobre esse assunto e todos os que envolvem, veja esta pesquisa de estatísticas do setor metalúrgico.